Por Paloma Sacramento, psicóloga
Nos impuseram um convite: conviva com a sua vulnerabilidade e com a falta de controle que existe.
O Covid-19, Corona vírus ou até Coronga (para os íntimos) nos impôs um convite de vivermos a nossa vulnerabilidade de perto. Não perguntou se podia entrar para tomar o café da tarde conosco: ele simplesmente chegou e impôs mudanças em nossas vidas.
A vida de aproximadamente 7,5 bilhões pessoas que habitam o planeta Terra sofreu mudanças de diferentes formas.
Este não é o primeiro vírus que causa isso e, certamente, não será o último. Existem incontáveis outras situações que nos impõem mudanças tão drásticas em nossas vidas – como doenças incuráveis, perda de familiares, tragédias ambientais e tantas outras que eu poderia passar horas listando.
Esta é a primeira vez que nossa geração vive um drama em conjunto e é, também, a primeira vez que juntos tememos pela morte, pela crise econômica, pelo pão que pode vir a faltar na nossa mesa ou pela ausência de alguém que pode não estar conosco nos próximos meses (e a incerteza de não sabermos se estaremos também). Estamos vivendo em isolamento físico mas, com certeza, nossas emoções estão em níveis muito próximos. Não é nada arriscado afirmar que a maioria de nós acorda todos os dias com medo, mais ansiosos do que de costume, com mais saudades e com um incômodo – que mesmo sendo vívido e intenso – é difícil de reconhecer e nomear.
Fomos jogados e trancafiados cara a cara com a nossa vulnerabilidade e, olho no olho, ela tem nos mostrado que todo o controle que acreditávamos existir era mera criação da nossa cabeça.
Não existe controle. A vida é imprevisível.
Toda essa situação nos gera luto e cada um o vivencia de uma forma. Pode ser um luto vivido pela perda de liberdade, tempo, dinheiro, emprego ou de pessoas. Se você perdeu algo nessa situação, você certamente passará pelo luto e vivenciará a dor da perda. Alguns vivenciarão mais intensamente, outros menos, alguns passarão por todas as fases do luto, outros não. Me arrisco a dizer que a maioria de nós está vivendo fora da nossa janela de tolerância: estamos no nosso extremo.
Por isso, se você tem se sentido mais ansios@, cansad@, com menos foco, irritad@, sem esperanças e preocupad@, está tudo bem! Faz parte desse convite. Todos nós, em diferentes níveis, estamos nos sentindo assim.
Apesar de tudo, quero te contar uma coisa: esse convite de conviver com a nossa vulnerabilidade tem seu lado bom – e sim, eu sou dessas pessoas que enxergam o copo meio cheio. A vulnerabilidade não é negativa, como muitos acreditam. Ela é o centro de todas as emoções e sensações e, com ela (além do medo, culpa, sentimento de não pertencimento e vergonha), caminham também o amor, a aceitação, alegria, coragem, empatia, criatividade, confiança e a autenticidade.
Sentir é estar vulnerável.
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