Num mundo como o que vivemos seria loucura achar que uma condição de pele pode ser pouca coisa, ou uma mera bobagem.
Numa era Instagram e dezenas de outros aplicativos que ressaltam o tal do promoção própria, fica difícil aceitar a ideia de que doenças de pele são problemas secundários.
Ao contrário, a pele é a persona visível em nós. É nosso cartão de visita, nosso modo aparente. O nosso avatar.
Sem dúvida o desafio só se torna maior. Além do incômodo que um paciente com urticária já sente consigo mesmo – ao ter que lidar com sintomas constantes, intenso prurido e os tratamentos que muitas vezes ainda falham – ele também tem que lembrar do incômodo que traz para outras pessoas. SIM, as pessoas se incomodam ao ver você cheio de urticas pelo corpo.
Se você vive com urticária sabe do que estou falando. Certamente já encarou perguntas, olhares preconceituosos, um afastamento “de leve” de algumas pessoas e centenas de comentários do que você poderia tentar.
A urticária não é lá essas coisas agradáveis de se ver. E você mesmo, como portador de urticária, deve ficar chateado com seus próprios sintomas. Aquela olhada no espelho, a tentativa de disfarçar o máximo possível, ou de desmarcar compromissos para não ter que aparecer deste jeito: tudo isso para não encarar olhares!
Se formos pensar nesse constrangimento ocasionado pelas doenças de pele é só imaginarmos a natureza do mundo e das pessoas, que há uma porção de séculos vem tirando conclusões sobre tudo e sobre todos por meio da aparência. O tom de pele, o jeito de se vestir, o modo como se apresenta… o mundo tem dessas coisas. E isso é absolutamente um desgaste.
Mas mais perigoso ainda pode ser quando esse julgamento não vem apenas de fora, mas quando nós mesmos reforçamos essa ideia, fazendo da nossa condição de pele o resumo sobre nós. Está certo que a pele é o maior órgão do corpo humano, e sentir-se bem com ela é uma defesa totalmente legítima, mas cá pra nós, você deve ser muito mais do que um bando de urticas.
Pense sobre você. Quem você é. As coisas que gosta de fazer. Seus sonhos e visão de mundo.
Nada disso é transparecido por sua pele. Nada disso pode ser capturado por quem te olhar. Essas coisas são mais importantes que seus sintomas e definem mais você do que o UAS7 desta semana.
É interessante pensar numa pele que deprime e que muitas vezes mente sobre quem nós somos. Que traz uma embalagem um pouco diferente do que nós gostaríamos de apresentar para nossos amigos.
Mas o que eu posso perceber, olhando para minha própria experiência nestes tantos anos vivendo com urticária é que as pessoas que verdadeiramente nos amam entenderão que isso não é tudo sobre quem somos.
A supervalorização do que se vê está embutida no nosso dia-a-dia e as pessoas estão bem ritmadas à acreditar nisso, mas você certamente tem uma história cronicamente incrível, que pode até passar por sua pele – em primeiro momento – mas que nunca caberá apenas nessa aparência.
Afinal, já diria Antoine De Saint-Exupéry, no tão querido clássico O Pequeno Príncipe:
“O essencial é invisível aos olhos.”
E ainda bem.
Para saber mais, confira esse vídeo:
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