A urticária funciona como um muro que te força a repensar as possibilidades no seu dia a dia. Você tem que se adaptar a seguir um novo ritmo, fazer as coisas de uma outra forma.
Imaginar minha vida sem essa barreira é como viver um sonho. Lembra bem os dias que acordo sem sintomas e minha vontade louca de resolver tudo. Agendar limpeza de pele, fazer depilação. Até mesmo fazer a sobrancelha.
Há uma limitação severa nos dias com urticária e imaginar uma vida fora disso é liberdade, ou simplesmente: a vida comum, como deveria ser.
Existe um grande esforço para que o paciente de urticária leve seus dias com naturalidade.
Uma aula na academia com alguns pesinhos podem causar pressão na palma da mão, um sapato mais apertado para uma festa de gala certamente causará edema na sola do pé. Já mencionei o incômodo de ir às compras e ter que trazer as sacolas?
São atividades naturais e certamente necessárias que podem provocar sintomas e piorar a condição da pele de quem vive com urticária.
Uma lista de desejos e de “to do’s” numa rotina sem meus sintomas seria um verdadeiro sucesso!
Passaria pela calça jeans com lycra, os botões de metal do shorts encostando na minha pele sem usar nenhum adesivo para evitar o contato. Uma caminhada bem rápida nas lojas de lingerie, pois não gastaria horas procurando sutiãs com menos elástico possível. Teria pulseiras apertadas, brincos sem proteção de plástico, e usaria meias tranquilamente, sem elas causarem um incômodo na minha pele.
Teria sandálias de fivela, e elas mesmo que apertadas sobre meus pés não causariam edema nenhum.
Finalmente bateria palmas sem pressa depois de uma reunião incrível, pelos minutos necessários, sem sentir minha mão arder.
Poderia segurar tranquilamente o bastão do ônibus e do metrô, agendaria mais horas de massagem sem sair de lá totalmente cheia de urticas.
Voltaria às aulas de pilates, e dançaria ballet sem nenhuma cautela sobre a pressão dos meus pés sobre o chão e a necessidade de uma sapatilha mais larguinha.
Eu comeria de tudo! E não me preocuparia com o agravamento de sintomas nenhum, afinal, nessa vida eu não teria urticária.
Poderia segurar a tesoura para cortar as unhas ou fazer algum artesanato, pelo tempo necessário, sem aparecer lesões dentre o dedos.
Usaria colares, tocas, chapéus dos mais tipos variados. Eu poderia ficar mais a vontade num dia de sol.
Eu depilaria as pernas com mais frequência, o que me levaria à usar mais saias e bermudas. Eu não me machucaria tentando aliviar a coceira doida que surge o tempo todo.
Eu poderia praticar mais esportes, teria mais peças de roupas à minha disposição. Eu seria uma mulher um pouco mais assídua na estética. Eu seria menos preocupada. Eu teria mais tempo. Eu teria uma vida comum.
Imaginar essa lista de possibilidades dá um alívio fantástico e nos leva a querer contemplar isso o mais imediato possível. Mas, existe algo interessante sobre os limites que a vida nos impõe.
Os limites tornam as tarefas mais complexas, mas nos fazem ser mais criativos no nosso dia a dia. Nos levam a forçar mais nossa capacidade de improviso, de plano b.
No geral, levar minha vida com urticária me impossibilita dessa lista de to do’s, mas me fez desenhar para cada uma dessas necessidades um aspecto novo delas serem vividas.
Pois bem, as necessidades ainda assim, serão realizadas. Num nível menor, com certeza, mas com a mesma vida que teria ser.
Vamos continuar batendo palmas e fazendo nossas sobrancelhas! Mesmo que de uma forma diferente e não na mesma intensidade de tempo que eu realmente gostaria.
A lista de desejos é grande, mas olhar para a realidade continua sendo o melhor modo de viver.
Para ter dicas de como viver (ainda com os sintomas) confira esse vídeo:
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