A vida em sociedade é algo primordial ao ser humano, ela nos permite a aprendizagem de comportamentos, valores, regras, sentimentos e tudo o que conhecemos enquanto indivíduos, assim podemos considerar que nos constituímos como pessoa apenas na relação com o outro (Pichon-Rivière, 1998).
Esta condição nos proporciona diversas experiências que por vezes são boas e desencadeiam sentimentos como o amor, pertencimento, aceitação e acolhimento. No entanto, quando não entendemos e refletimos sobre nosso fator social de forma crítica acerca das diferenças, nos deparamos com desafios e dificuldades que contornam a desigualdade, a segregação, o julgamento, a desvalorização, o preconceito e a exclusão.
Quando abordamos o preconceito, o constrangimento, a aceitação social e até mesmo a exclusão, falamos de situações ligadas diretamente a afetividade, pois ela é quem permeia as relações humanas. Portanto a situação do sujeito quando sofre um processo discriminatório, atravessa um sofrimento delineado pela intersubjetividade social, sofre por não ser considerado um sujeito de direito, pela falta de reconhecimento enquanto humano com sentimentos e desejos (Sawaia, 1999).
Em meio a tudo isso, como lidar com estas questões quando nossa diferença está literalmente sob nossa pele? Quando atraímos olhares curiosos ao nosso corpo que parecem devorar quem somos e o que sentimos? Como se mostrar ao mundo se por vezes ele parece fechar minhas possibilidades de viver?
Embora este escritor não tenha o mesmo lugar de fala daquele que lida com a urticária diariamente, proponho-me a pontuar reflexões que contribuam para uma auto análise sob as situações aqui referidas.
Acredito que uma possibilidade para transcender a estes questionamentos seria a aceitação. Ainda que este tema seja cotidianamente difundido nas mídias sociais, você realmente já parou pra pensar sobre quem você é? E se já fez este questionamento a si mesmo, será que conseguimos abstrair e reconhecer aquilo que é bom e aquilo que é ruim em nós mesmos? Aquilo que podemos enxergar com clareza e aquilo que fica sob a sombra que geralmente nos persegue sem perceber que está ali?
Aceitação não está somente ligada a reconhecer em que somos bons mas também em que somos ruins. Assim como a rosa floresce e materializa a beleza de suas pétalas suaves, leves e macias, seu caule é repleto de espinhos que perfuram e machucam, servindo como o sinônimo para o sofrimento e a dor. Ela não é uma parte nem outra, sua constituição depende dos dois lados e sua ambivalência define o que ela é, alegria e tristeza, amor e ódio, suavidade e brutalidade. Este paradigma não tem o intuito apenas de levantar as bandeiras do bem e do mal que habitam dentro de nós, mas sim de reconhecer que somos totalidade, que somos complementares e dinâmicos.
Desta mesma forma como a aceitação se direciona a uma mobilização debaixo da pele, ela também reflete sobre a nossa vida exterior. É certo que os padrões sociais principalmente voltados a beleza, acabam por suprimir quase toda a esperança de que seremos bem vistos pelo próximo, entretanto este não deve ser o ponto de partida principal para definir se devemos ou não expor quem somos e como somos ao mundo.
Você tem o direito e o dever de ser VOCÊ, e apenas você pode fazer isso. Se os que te olham não estão preparados para te enxergar e aceitar enquanto totalidade, é porque possivelmente ainda não entraram em contato com suas próprias vulnerabilidades, e estão presos a um imaginário de quem são. Por isso, se expresse, apareça, viva e floresça, mostre os seus espinhos.
Andre Felipe Valin Vieira
Estudante de Psicologia
Referências:
PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, rev. 1998.
SAWAIA, B. (Org.). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. 2. Ed. Petrópolis, RJ:Editora Vozes Ltda., 1999.
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