Chamamos o médico Dr Luis Felipe Ensina para uma entrevista a fim de tirarmos dúvidas sobre a doença COVID-19 e as implicações para quem convive com urticária.
Convidamos você pra conferir:
Redação 3000dias:
Oi, doutor, muito bom ter sua ajuda em um tempo como esse, trazendo um respaldo médico sobre uma questão que está deixando o mundo todo em temor. Te convidamos para esse bate papo pra que possa nos ajudar com dúvidas simples, mas ainda sem nenhum recurso de pesquisa sobre o novo corona vírus e o impacto dele para quem convive com urticária crônica.
De primeira, vindo de encontro com os conteúdos que já publicamos aqui no 3000dias e também que o senhor já publicou em suas redes, sabemos que a urticária não é uma doença crônica que está dentro da lista das doenças crônicas de mais perigo, correto?
Doutor Luis Felipe Ensina: Correto. Apesar de ser uma doença crônica, e muitas vezes com sintomas que se estendem para além da pele, a urticária até o momento não se mostrou um fator de risco para maior gravidade da COVID-19.
Mas sendo a urticária crônica espontânea conhecida como tendo um mecanismo auto imune, não tem alguma interferência? Temos ouvido muito sobre a importância do sistema imunológico nesse momento, como isso se aplica?
Doutor Luis Felipe Ensina: A maior parte das urticárias tem um mecanismo auto-imune. O fato de existir uma “desregulação” imunológica que leva a produção de anticorpos contra proteínas do próprio corpo, não implica necessariamente em algum defeito da resposta imune contra vírus e bactérias. Veja por exemplo o caso das tireoidites auto-imunes, que atingem até 2% da população.
É aconselhável que os pacientes que fazem uso de omalizumabe interrompam o tratamento nesse momento de quarentena?
Doutor Luis Felipe Ensina: Até o momento não existe uma orientação para que o omalizumabe seja interrompido por causa da COVID-19. O mecanismo de ação do omalizumabe é específico, bloqueando um tipo de anticorpo que é a IgE. A IgE, até onde sabemos, não está relacionada à defesa contra vírus, incluindo o coronavírus.
Sabemos que os pacientes que usam corticóides em nível contínuo correm mais risco de contrair a doença, e sobre aqueles que usam pontualmente devido à crises mais exacerbadas da doença há alguma indicação?
Doutor Luis Felipe Ensina: Os corticoides usados por períodos prolongados e em doses altas, levam à imunossupressão, o que aumentaria o risco de uma infecção grave pelo coronavírus. Portanto, se um indivíduo tem urticária crônica e está controlando apenas com corticoide, deve procurar seu médico imediatamente, pois existem outros tratamento eficazes. O uso pontual do corticoide por período curto (5-10 dias) provavelmente não levará a uma pior resposta imunológica contra o vírus.
Em linhas gerais, o que os pacientes de urticária podem fazer num momento como esse?
Doutor Luis Felipe Ensina: Num momento como este, os pacientes com urticária devem manter-se tranquilos e tomar todos os cuidados indicados pelas autoridades locais e nacionais. Se a urticária estiver mal-controlada, converse com seu médico sobre a possibilidade de uma consulta por telemedicina (liberada no dia 23/03), ou até mesmo sobre uma segunda opinião também utilizando este recurso. Os pacientes em uso de imunossupressores como a ciclosporina, metotrexate e azatioprina, devem ter cuidado redobrado. Sem pânico e com paciência, vamos todos aproveitar este momento para recolher os resultados que nos ajudarão a tornarmos seres melhores.
**Doutor Luis Felipe Ensina é médico especialista em Alergia e Imunologia Clínica. Mestre em Imunologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo. Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo. Coordenador do Centro de Referência e Excelência em Urticária (UCARE) da Disciplina de Alergia, Imunologia e Reumatologia do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo.
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